terça-feira, 16 de setembro de 2014

Carta ao Falabela

Nas últimas semanas debates sobre racismo foram destaques mais uma vez nas redes sociais, tendo em vista que estamos em um período eleitoral atípico, isso me deixa muito esperançosa de que as pessoas estão acordando para o debate, para a construção de um novo modelo de sociedade, uma sociedade mais justa e igualitária.
Aos meus 29 anos eu nunca presenciei tantas manifestações racistas, como nesses últimos anos e gostaria de destacar que levando em consideração a minha idade muitas coisas evoluíram de lá para cá, como, por exemplo, a criação de órgãos que trabalhem os Direitos Humanos, garantindo de fato os direitos de classes menos favorecidas, além de várias entidades Governamentais  e não governamentais que visam combater práticas racistas. A internet, herança da minha geração (que pode ser mocinha ou vilã) em determinados casos também serve de força motriz para o avanço das denuncias, ou até mesmo do conhecimento sobre práticas preconceituosas, não só étnica.
Mas o que chamou a minha atenção e é sobre isso que quero falar aqui, foi a quantidade de pessoas, que dizem estarmos “ exagerando”, ou até que estamos generalizando dizendo que “tudo agora é racismo”, tais declarações me assustou. Ai eu pensei, será que as pessoas não estão tendo a noção do que é que está acontecendo? Pessoas sinto lhes decepcionar mas tudo isso É RACISMO SIM, e acreditem não estamos exagerando, estamos apenas lutando pelos nossos direitos. Se esse “barulho” todo incomodar vocês, nos desculpem, é que não se muda uma sociedade em silêncio. Precisamos abrir a boca mesmo, gritar, publicar, denunciar, compartilhar, até que tais práticas sejam de uma vez por todas extintas, ou vocês acham que devemos ficar em silêncio diante das atrocidades que vemos por ai?
 Quando somos xingados de macacos estamos sofrendo racismo sim, quando somos expostas situações constrangedoras por conta da cor da nossa pele, isso também é racismo, e mesmo quando temos capacidade de exercer uma função superior e somos obrigadas a exercer funções que são “pertinentes” a pessoas da nossa cor, isso é racismo sim! Dizer que o racismo não existe é tapar o sol com a peneira, quem é negro sofre preconceito quase que diariamente.
 E ai eu quero abrir uma aspas para me posicionar sobre a minissérie do meu amigo Miguel Falabela ( amigos sim, afinal ele fala de nós mulheres negras com tanta propriedade e intimidade que me sinto intima) Essa semana ele estreará a minissérie intitulada, “ SEXO E AS NEGAS “ que irá ao ar pela Rede Globo de televisão.  Nesta minissérie onde as “ protagonistas “ são mulheres e negras, será retratada o cotidiano delas nas favelas do Rio de Janeiro. Gostaria de ressaltar que eu sei de todas as mazelas e dificuldades que as mulheres negras, sobretudo as periféricas ainda sofrem, e sei da herança histórica que as colocam nessa situação vulnerável, o que não vem ao caso discutirmos agora e não quero também de jeito algum esconder essa realidade. O que eu gostaria de me fazer entender é que precisamos mudar o disco, mudar a forma de enxergar a mulher negra, viu Falabela? Por mais que sua intenção seja de retratar a realidade da mulher negra brasileira, como você mesmo declarou, está na hora de mostrar o outro lado da moeda.
Estamos cansadas de sermos as diaristas das novelas, as donas de bares, as dançarinas de funk ( sem desmerecer as profissões, é claro ), afinal aqui fora das telinhas existem negras juízas, empresárias, ministras, prefeitas, professoras, nos conseguimos ocupar outros setores da sociedade, sabia?  E a nossa sociedade precisa saber que essas mulheres existem, principalmente as meninas adolescentes que assistem essas novelas e minisséries e se vêem ali, elas precisam saber que elas podem ser outras personagens também, inclusive na vida.
Ai eu te pergunto uma minissérie intitulada “ o Sexo e as negas “ te remete ao que? Pense rápido! Ahhh mas é só um título !! Não, isso não é só um título, isso é a desconstrução de todo um trabalho feito para combater o racismo, o preconceito com relação a gênero, Intrínseco nesse título tem muitas outras questões que geraria assunto para outra minissérie.
Então caro amigo Falabela, existe outra realidade que precisa ser contada, a realidade de mulheres bem sucedidas que vivem ou viveram em favelas e que não precisaram ser expostas à sexualidade ou que não foram mães precoces, ou que não precisaram ser empregadas domésticas para chegar onde chegaram, mulheres que galgaram a sua vida profissional através dos estudos, de uma base familiar sólida e que não são mães solteiras.
Falabela se me permite gostaria de lhe dizer que mesmo que você não tenha tido a “intenção“ de ser racista, você foi. Creio que um negro consciente dos malefícios e do retrocesso que essa minissérie retrata a nossa luta diária, jamais escreveria uma minissérie com esse título, isso por mais “engraçado“ que seja. Nós não perdemos o humor, é que o HUMOR NEGRO, não tem graça nenhuma, mesmo que o título tivesse sido “O sexo e as brancas “, estaria aqui lhe escrevendo em defesa da mulher, que deve ser respeitada e que não deve ser colocada exposta a preconceitos oriundos de uma minissérie repleta de preconceito e desvalorização à mulher brasileira. O que queremos caro autor, ator, produtor, diretor, é sermos tratados com respeito, e sem gracinhas, porque é por causa de gracinhas como essas que somos diariamente submetidos a atitudes racistas. E Não,  #OSexoEasNegasNãoMeRepresenta e você também está longe de me representar.    

Por Íris Fabianna 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

* Novo Velho Amor *

Segurou a minha mão
Deixando a sua pulsação
Pulsar dentro de mim

Chegou tão inquieto, atrapalhado, embaraçado
E como um vendaval
Entrou e bagunçou o que, por hora, estava arrumado

Como se não bastasse bagunçar meu coração
Bagunçou também minhas vontades
E até minha vaidade



E de forma calma 
como o amanhecer na minha janela
Fez usucapião do que já era seu

E sem relutar, me fiz sua moradia
Te dando toda a alegria
Da minha eterna companhia 

Por Íris Fabianna 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Na tela da TV, no meio desse POVO ...

 As vezes esse negócio de ficar discutindo sobre religião, futebol e política me cansa, do mesmo modo que já estou cansada de discutir sobre preconceito, homofobia e racismo, mas como sempre fui uma pessoa questionadora não consigo estar diante de certos acontecimentos e não expressar a minha opinião, meu senso crítico é bem rebelde.
Pois bem, gostaria de usar esse espaço para dar a minha humilde opinião sobre a nova “ globeleza “ Nayara Justino, e não quero debater por aqui temas sobre a mídia do nosso país, por achar que a TV não manipula as pessoas se estas tiverem algo chamado PERSONALIDADE.
Talvez eu esteja começando uma terceira guerra mundial, pelo simples fato de não concordar com a opinião da maioria, mas estou nem ai, também não concordo com muitas coisas que ouço por ai e nem por isso saio gritando por ai feito maritaca inconformada.
Eu gostaria sinceramente de saber qual é o critério utilizado pela população mundial, mais especificamente a brasileira para designar que alguém é feio ou bonito, não quero ser hipócrita em dizer que não tenho os meus critérios, tenho sim, todos temos, mas o que não consigo entender é essa dificuldade que as pessoas têm de aceitar as opiniões alheias, as diferenças, respeitar, sobretudo o próximo.
O que é belo para mim, pode não ser para você e vice-versa, ponto. O que me deixou triste nestes últimos dias foi a falta de respeito com uma mulher, que além de todos os sapos que tem que engolir diariamente, por todos os fatores sociológicos que a circunda por ser negra, tem ainda que lidar com as brincadeiras maliciosas feitas por pessoas que simplesmente não acham ela “ bonitinha”, peraí!! Essa semana mesmo vi circular nas redes sociais uma brincadeira, de muito mau gosto, diga-se de passagem,  onde fazem comparações esdrúxulas da moça, com outro ator Leandro Firmino (que fez o papel de “Zé pequeno” em um determinado filme) colocando os dois é pé de igualdade no quesito feiúra, dizendo de forma explicitas que os mesmos se pareciam por serem feios, dá pra acreditar?  
A globeleza 2014, a meu ver representa sim as mulheres negras brasileiras, de traços marcantes, nariz achatado, pele escura, bumbum mais avantajado e seio pequenos, afinal todos sabemos que a maioria das brasileiras tem esse biótipo. Mas o que se vê é a predominância por um conceito de beleza que nos torna mulheres ainda mais reféns de produtos de beleza, academias, dietas e malhação, quase que obrigatório, pois devemos ter o cabelo liso, o bumbum grande, a barriga sequinha, o nariz afilado, os seios turbinados, ah! e saber sambar também, afinal somos brasileiras.O que me deixa contente é que a Nayara, foi escolhida por voto popular, ou seja, as pessoas se viram representadas por ela, me fazendo crer que não penso de forma isolada.
Só queria propor ( com toda a minha ousadia ) ao criador do quadro “globeleza” que nas próximas edições fossem valorizados o samba no pé, o sorriso gracioso, a simpatia das belas mulheres que irão desfilar pelo horário nobre da TV brasileira e não suas curvas totalmente despidas, sem desmerecer, é claro, o trabalho do César Rocha- Design de Pintura, mas  que tal colocá-las vestidas? ... Já ouço vozes “ Ops ai não né Íris, você quer acabar com o carnaval? “.